quinta-feira, 18 de julho de 2013

É, assim, a vida

A C, de 29 anos, entrou pela primeira vez no meu escritório num dia cinzento do inicio de Novembro do ano passado. Os dias eram já pequenos e quando a recebi às 19h era já noite lá fora. A minha sala estava iluminada por um pequeno candeeiro que emitia uma luz amarela. Entrou na sala... Uns 1,60 de altura, magra, demasiado para a sua altura, ar pesado e consigo trazia uma mochila-trolley da Holmes Place.

Assim que começou a explicar-me o motivo da sua visita, o som do catarro saiu pela sua boca fundido com a sua voz. Fiquei mais atenta aos detalhes: cabelo sem brilho....morto, olheiras vincadas, pálida demasiado, as suas mãos esqueléticas com os tendões e veias completamente saídos. O preconceito imediato foi: ou fumas demasiado ou és anoréctica. Errado: infecção crónica pulmunar.Terminei a reunião a combinar reunirmos duas vezes por semana. Ela saiu do meu escritorio e eu tive a certeza que nunca mais a iria ver. Errei. Nunca faltou a uma unica reunião. Nunca se atrasou. Às 19h em ponto a campainha tocava. Era ela. O inicio foi muito complicado para mim. Desafiava-me como nenhuma outra o fez. Mas consegui chegar até ela. Melhor....consegui conquistar a sua confiança.

Um dia solarengo dos finais de Março, segunda-feira. O meu telefone toca. É a C. "Olá C., está tudo bem?"; "desculpe, aqui é o pai da C. É só para dizer que a C. faleceu esta noite... Achei que ia gostar de se despedir dela". Três frases que dificilmente me irei esquecer. Nem esquecer a sensação do chão que foi tirado dos meus pés...

Já aqui escrevi que estou numa fase complicada da minha vida. Estou arrogante, antipática, impaciente, pouco disponível, insecravel, ciumenta, insegura. Mas não fui capaz de dizer não quando ontem o pai da C. me telefonou a pedir para receber a mãe dela. Soube de imediato que ia ser muito violento para mim e que ia ficar de rastos. Fiquei ansiosa e nervosa. Esta noite tive pesadelos. Trabalhei 12h. E a ultima, foi para ela.

Vê-la e ouvi-la falar da filha, do feitio da filha, da arrogância da filha, da morte da filha, das saudades da filha, do...."nem é o facto de não a ver que me mais me custa....é o nunca mais ouvir a sua voz que me dói mais". É a sensação indiscritível de ver uma mãe que chora a morte de uma filha de 29 anos na esperança que eu lhe diga que a sua filha, algum dia, me disse "eu tenho orgulho na minha mãe". Uma mãe que precisa de saber que a filha tinha orgulho nela. Uma mãe que me implora "por favor, diga-me que ela lhe disse que tinha orgulho de mim!".

Estou desfeita... Nunca antes isto aconteceu. Nunca antes eu perdi o controlo desta maneira... Nunca antes desejei tanto desaparecer... Só queria suspender por uns instantes a minha vida só para poder descansar. Só descansar... Ficar quietinha. Na minha cama. Sem qualquer responsabilidade.






terça-feira, 16 de julho de 2013

Confissão de adul(escen)to

Sou uma pessoa muito insegura... quando alguma coisa de má ou estranha acontece, penso sempre que fiz alguma porcaria. Odeio ser assim.

Fight Club

Esta noite tive sonhos maus... daqueles que quando acordamos colocamos tudo em causa. Tudo. Depois caí em mim e fiquei revoltada . Mandei um grito à merda. Então, como mecanismo de sobrevivência.. estou a vazar a minha raiva contida e a fazer um esforço enorme para não descarregar em quem não merece e a passar a lingua nos lábios de satisfação pela oportunidade de descarregar naqueles que tocam no meu nervo sensivel. Hoje o fight club fazia todo o sentido e lutava até caír no chão exausta... de preferência com o actor principal.


Bom dia